Não seria o melhor dos mundos uma espécie de clipping com todas as notícias que me interessam? Esses agregadores existem, mas estão ficando cada vez melhores.
14/01/2013, Época Negócios
Por Daniela Almeida
http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Empresa/noticia/2013/01/chegada-da-amazon-ao-brasil-ameaca-tambem-o-medio-varejo-online.html
A chegada da Amazon ao Brasil pode matar um grande número de médios varejistas online. O futuro é estar no celular e as empresas brasileiras estão perdendo o bonde da tecnologia móvel. Esqueça os Brics: os investidores internacionais estão indo agora para países como Serra Leoa ou Bangladesh.
Essas são apenas algumas das possíveis tendências de negócios em 2013, mapeadas pelo estudo mundial “100 Coisas Para Observar em 2013” que a agência JWT antecipou à NEGÓCIOS (o estudo completo você acessa neste link).
Para Fernand Alphen, head of strategy da JWT, a tecnologia é o fio condutor em praticamente todas as iniciativas a serem observadas, apontadas por ele como fortes movimentos de negócios no Brasil ou no mundo. A seguir, o executivo explica algumas dessas principais ideias.
Levando em conta as possíveis tendências do estudo, o que as empresas brasileiras estão fazendo e o que deveriam fazer diferente em 2013?
A palavra de ordem para todas as marcas é “go mobile” (seja móvel). Se eu fosse um cliente de qualquer marca, olharia com cuidado e concentração de energia maior para isso. Estamos na pré-história da tecnologia móvel no Brasil. Já tentou comprar ingresso pelo celular? É impossível. Já reparou como os tablets estão virando uma espécie de babá eletrônica pras crianças? Parece tão óbvio. O cara que está chacoalhando no ônibus tá olhando o celular. Isso acontece em parte porque a infra-estrutura é ruim, em parte porque a penetração de smartphones ainda é baixa. Mas esses dois fatores vão melhorar e as empresas correm o risco de perder o bonde. Quem fizer mobile bem, vai ganhar o jogo.
Na lista abaixo, você aponta muitas iniciativas que têm a ver com varejo e com internet para o Brasil. Por quê?
O varejo está em uma encruzilhada. É só ver o quanto o Walmart está investindo mundialmente no online pra salvar seu negócio físico. Minha sensação é que o grande negócio da internet é o varejo. É o que cresce a taxas absurdas todo ano. E o varejo não pode mais sobreviver se não tiver isso. O espaço físico é caro e o consumidor está transformando o varejo físico em showroom.
A internet pode substituir o varejo físico?
Do ponto de vista de experiência de compra, o mundo online ainda está engatinhando. O sensorial na internet ainda é muito ruim. A Amazon, que é o melhor exemplo de experiência de compra, é tecnicamente incrível, mas não é sensorial. Esse é o grande desafio que o varejo online vai ter: como consigo fazer essa experiência de compra sensorialmente atraente? Não é só colocar fotos lindas, é usar 3D, entre outras coisas.
Nesse estudo, qual a principal tendência no mundo?
Não sei se é a mais relevante, mas tem uma ideia que é bem curiosa. São novos países, todos fora dos Brics, que estão cada vez mais atraindo o olhar dos investidores. São lugares como Bangladesh e Serra Leoa. Países com reservas naturais gigantescas, ainda inexploradas, mercado consumidor importante e economias simples querendo receber dinheiro. Países que você nunca suspeitou. O mundo está ficando menos óbvio.
Confira abaixo as 10 ideias do estudo mais relevantes para o Brasil, segundo Alphen.
Emboscado pela Amazon
“A gente tem que ficar muito de olho na Amazon, que promete ser o maior varejista do mundo até 2017, segundo a ChannelAdvisor. A Amazon começa tímida, tentando uma categoria, mas pela escala que ela tem, pela experiência de compra dos consumidores, em dois minutos ela passa a liderar aquele setor. Já é o segundo maior vendedor de remédios nos Estados Unidos. Ela virou uma operação muito complexa de varejo, com um centro distribuição e agilidade na entrega que ninguém consegue atingir. Virou uma empresa de distribuição, aliás. Com exceção do Kindle, ela não produz nada. Quando ela pega essa inteligência de distribuição, aliada à base de dados colossal que tem e entra na categoria lápis de cor, qual o fabricante que não vai querer dar prioridade pra Amazon?
No Brasil, ela vai ser muito relevante porque a plataforma deles é muito mais sofisticada que a dos maiores varejistas brasileiros que existem, seja Americanas, Submarino, Ponto Frio, Casas Bahia, todo mundo. Esses caras estão preocupados e já sabem disso. Mas tem um monte de gente menor que não está ligando, mas que pode ver seu negócio, justamente porque é menor, acabar da noite para o dia. Imagina ela entrando em material escolar e de escritório? A Kalunga que é um concorrente nessa categoria pode e deve ficar preocupada.”
Clique, compre e busque
“É a ideia de que você compra online, a loja prepara o pedido e o cliente busca pessoalmente. O cliente não tem custo de entrega, pode recusar a mercadoria mais fácil. É muito prático. Parece que a Amazon e o eBay estão se interessando por esse esquema também.”
Ecossistemas digitais
“Os grandes players da internet (Facebook, Google, Amazon, eBay) estão trabalhando arduamente para virarem um ponto de controle na vida dos consumidores. Eles estão criando ferramentas para que você faça mais coisas, que talvez nem seja do core deles. Um bom exemplo é o Facebook. Ele é tão grande e poderoso que hoje a grande maioria dos novos players ou aplicativos têm a opção de o usuário se conectar via Facebook. Ele virou um grande cadastro porque ele percebe que fazendo isso, torna outras iniciativas ‘escravas deles’. E assim com sistema de pagamento e outras coisas que estão começando a pintar e que os varejistas estão olhando. Não é mais impensável que a Amazon compre o PayPal. Aí vira sistema de pagamento Amazon. Veja o Google. Ele tem o YouTube, tradutor, mapas... Não dá mais pra ser definido como uma ferramenta de buscas. Ele é pra onde você vai quando entra na internet. O que eles querem é que o consumidor pense: você só precisa de mim e de mais nada.”
Cerco geográfico
“Existe um problema típico do varejo. O cara vai à loja, olha o produto, vai para casa e pesquisa na internet onde está mais barato. Ele quer comprar uma geladeira Brastemp e vai às Casas Bahia pra ver a geladeira. Ele não quer saber da loja, quer saber da geladeira. A Casas Bahia virou um showroom da Brastemp. Na categoria hipermercados isso acontece muito. Existe uma coisa muito simples de se fazer que é mandar por Bluetooth ou SMS, por meio de geolocalização das operadoras, promoções para consumidores que estão passando perto da sua loja. Está se falando disso há algum tempo, mas a tecnologia está cada vez melhor para viabilizar isso.”
Vida transmitida ao vivo
“Dispositivos já estão sendo inventados para transmitir instantaneamente para as suas redes de contato coisas que você está vendo. Não é tirar uma foto no celular e compartilhar no Facebook. É compartilhar ao mesmo tempo em que estou tirando foto. Imagine que enquanto filmo meu filho na piscina, em outro país, minha mãe pode assistir, com pouca diferença de tempo, isso no WhatsApp ou no Facebook. Há câmeras que têm conexão Wi-Fi e que já fazem isso. É quase uma teleconferência. Imagina isso, no futuro, com os óculos do Google?”
Pílulas de notícias
“Com os tablets e smartphones é preciso assinar uma quantidade de revistas enorme para ficar informado. Não seria o melhor dos mundos uma espécie de clipping com todas as notícias que me interessam? Esses agregadores existem, mas estão ficando cada vez melhores. Um bom exemplo é o Wavii, muito parecido com o Pinterest. No Brasil existe o Busk, inventado por brasileiros e que também funciona como rede social. Quando seu amigo lê uma notícia, ele mostra essa informação, o que referenda o conteúdo. Esses agregadores estão ficando cada vez mais bonitos (o que é muito importante na internet), com uma experiência de navegação mais fácil e intuitiva. Mas agora, além de tudo isso, estão conseguindo autorização de vários produtores de conteúdo relevantes. Não importa que eles não disponibilizem o conteúdo completo. A parte do conteúdo que eles trazem é o que interessa para as pessoas.”
Sites de empreendedorismo
“São sites na internet que te ajudam a ter um negócio paralelo ou a empreender. No Brasil tem um muito bom que se chama Catarse. Lá fora tem um famoso que se chama Kickstarter. É como se fosse um facilitador para criar um negócio, com inclusive ferramentas para financiamento, ou de crowdfunding [o financiamento de um projeto por um grupo de pessoas]. Esse negócio está explodindo, principalmente lá fora, e é pra prestar atenção.”
Horário nobre, em novas telas
“O YouTube, em 2011, investiu US$ 100 milhões para desenvolver canais de programas de baixo custo em linguagem web. Significa que ele está investindo para virar uma Rede Globo da internet, deixando de ser apenas um agregador. Um exemplo melhor ainda é o do Netflix, um sucesso nos Estados Unidos. O problema deles no Brasil ainda é o catálogo, mas eles estão investido pra melhorar isso. Tanto que estão ganhando exclusividade de distribuição. A série Arrested Development [transmitida anteriormente pela Fox, na TV] será transmitida com exclusividade pelo Netflix. É a segunda tela que está ganhando conteúdo de horário nobre.”
Self service
“Essa oferta enorme que as empresas estão fazendo para que o consumidor se vire sozinho. Você vai ao Pão de Açúcar, hoje, e tem aquele caixa no qual você mesmo passa as compras e paga. Nos Estados Unidos isso é muito comum e funciona. Na companhia aérea Air France, é você quem despacha a sua bagagem no terminal. Existem aplicativos de smartphone que monitoram seus sinais vitais e mandam pra um site que faz o acompanhamento da sua saúde.”
Janela de compras
“Mais uma vez o Pão de Açúcar é um bom exemplo. Ele montou, em um shopping de São Paulo, onde não está, uma vitrine totalmente touch screen com mais de 300 itens e um sistema online pra fazer a compra. É uma solução sensacional tanto para o consumidor quanto para o varejista. O espaço físico para manter uma loja custa uma fortuna. Para o consumidor é muito pratico, ele não precisar ir ao mercado. Esse exemplo já é uma experiência mais legal que entrar em um site e comprar.”