Quem clama por mais informação de qualidade pede, por consequência, uma imprensa livre, profissional e plural, diz Felipe Recondo, coautor da obra
Por Kassia Nobre
Especialistas na cobertura do Supremo Tribunal Federal (STF), os jornalistas Felipe Recondo e Luis Weber lançam Os onze: O STF, seus bastidores e suas crises (Companhia das Letras).
A obra é considerada o mais completo relato sobre atuação do principal tribunal do país, do Mensalão ao governo Bolsonaro.
O Portal IMPRENSA conversou com o Felipe Recondo sobre a construção do livro e sobre o papel da imprensa nos dias de hoje.
“Quem clama por mais informação de qualidade pede, por consequência, uma imprensa livre, profissional e plural”, afirmou.
Felipe Recondo é sócio-fundador do site JOTA e Luis Weber é secretário de Edição da sucursal da Folha de S. Paulo, em Brasília.
Redação Portal IMPRENSA - Você é especialista na cobertura do STF e acompanha o cotidiano do Supremo há mais de uma década. Como foi a decisão de transformar toda esta vivência em um livro?
Felipe Recondo - São dois momentos diferentes. Primeiro, quando passei a cobrir o Supremo, pelo jornal O Estado de S.Paulo, procurei bibliografia para estudar o funcionamento do tribunal, bastidores, etc. para entender como o a Corte funcionava. Eu vinha da cobertura de Congresso Nacional e estava entrando em outra seara. Queria saber onde estava pisando. E infelizmente não havia livros escritos por jornalistas sobre o STF, mesmo tendo passado por lá grandes jornalistas. Talvez porque o Supremo de tempos anteriores não estivesse tanto em discussão como passou a estar nos últimos anos. Portanto, quando fui cobrir o Supremo, decidi escrever sobre o tribunal, mas ainda não sabia o que seria. O segundo momento veio depois da morte do ministro Teori Zavascki. Aquele foi um momento dramático para o tribunal e para o país. Eu ainda estava terminando o primeiro livro, sobre o Supremo e a Ditadura Militar, mas já recebi a incumbência da Companhia das Letras de escrever um segundo, sobre este STF que cobri nos últimos 12 anos.
Redação Portal IMPRENSA - Você e o Luiz Weber realizaram centenas de entrevistas para o livro. Como você classificaria a recepção dos ministros com a construção do seu relato?
Felipe Recondo - Os ministros do passado, como Sepúlveda Pertence, Octavio Gallotti, Moreira Alves, Francisco Rezek, Xavier de Albuquerque, Paulo Brossard, Ilmar Galvão, Maurício Corrêa, Célio Borja, Néri da Silveira, todos eles ajudaram e muito na compreensão do objeto: de um Supremo distinto do tribunal de hoje. O mesmo vale para ministros recentemente aposentados, como Nelson Jobim, Ayres Britto. Os ministros da atual composição, por razões naturais, foram mais reservados no trato do Supremo, mas pudemos entrevistar todos eles para o trabalho. Além disso, a apuração do dia-a-dia nesses últimos 12 anos dá base para o livro. Foi, portanto, um trabalho de longo prazo.
Redação Portal IMPRENSA - Diante dos constantes ataques ao STF (com protestos populares pedindo o seu fechamento) como você acredita que será a recepção dos leitores? Há um público específico que você desejaria que lesse a obra?
Felipe Recondo - É uma ótima pergunta para dizer algo que nos guiou nessa pesquisa. Este não é um livro contra o STF. Este é um livro sobre o STF. Queremos ajudar, de alguma maneira, no debate sobre a instituição Supremo. Uma instituição necessária para o equilíbrio entre os três poderes e entre a vontade da maioria e os valores da Constituição. Sendo assim, buscamos atingir um público mais amplo, mesmo que não seja do Direito ou conhecedor do linguajar jurídico. A impressão que tínhamos era de que poderíamos apresentar o tribunal de alguma forma menos segmentada, menos fragmentada. Essa foi a nossa proposta.
Redação Portal IMPRENSA - Diante dos ataques à imprensa e da onda de desinformação nas redes, como você avalia o papel da imprensa? E do repórter que cobre temas políticos?
Felipe Recondo - Absolutamente fundamental. Quem clama por mais informação de qualidade pede, por consequência, uma imprensa livre, profissional e plural. Quem a ataca quer a hegemonia de um discurso – seja de que lado for. Críticas são sempre bem-vindas e, talvez, ninguém seja mais crítico em relação aos problemas da imprensa do que nós, jornalistas. Nós já vivemos momentos de tensão entre os poderes e a imprensa no passado e vamos vivê-los também no futuro. A imprensa continuará trabalhando em prol da sociedade, como sempre fez.
Lançamento
O lançamento do livro Os Onze será realizado hoje, 19 de agosto, na Livraria Cultura (Teatro Eva Herz), na Av. Paulista, 2073. São Paulo-SP.
O evento se iniciará às 19h00.
O evento se iniciará às 19h00.
Fonte: Portal IMPRENSA