Aparentemente na contramão do mundo, editora catarinense vai lançar fonte impressa de notícias
Não se sabe se o amor foi o principal mandamento, mas em meados do século XIX a princesa Francisca de Bragança, quarta filha do imperador Dom Pedro I e da imperatriz D. Maria Leopoldina, casou com o navegador Francisco Fernando Orléans, terceiro filho do rei Luís Filipe I de França. Como dote, as famílias combinaram 750 contos de réis e terras no atual estado de Santa Catarina, no nordeste da província, onde está a cidade de Joinville. Com o “sim” no altar, ele acumulou a condição de Príncipe de Joinville e as terras passaram a ser chamadas “Colônia Dona Francisca”. Bem poderia ser mais um reflexo do já tardio empoderamento feminino, mas essa personagem icônica agora revive e é homenageada emprestando seu nome e charme ao, talvez, mais inesperado projeto editorial brasileiro.
A cidade mais populosa de Santa Catarina está prestes a ganhar uma nova fonte de leitura de notícias. E não é na internet. Corajosa e surpreendentemente, o investimento está sendo feito em uma plataforma impressa. A Revista Francisca, proposta da Editora Mercado de Comunicação, terá inicialmente distribuição gratuita, em pontos estratégicos voltados às classes A e B, com tiragem de 5 mil exemplares. Prevista para julho, a edição de estreia trará matérias de economia, política, comportamento, meio ambiente, inovação, educação e lazer. “Os textos vão refletir a análise crítica e o olhar atento sobre temas que impactam a vida de Joinville e região, proporcionando diferentes perspectivas para um mesmo assunto e dando voz a personagens da cidade”, adianta o editor-chefe, Guilherme Diefenthaeler, jornalista, professor e escritor com mais de trinta anos de carreira.
Apesar da crescente transferência de leitores do meio impresso para o digital, o leitor ainda tem a percepção de que o impresso é o que mais aprofunda a informação, tem maior credibilidade e confiabilidade. Ética e transparência no trato com a informação, independência editorial, sem interferência comercial. Eis o pressuposto em que aposta e os pilares em que se apoia a equipe de Francisca, que juntou referências das redações, da comunicação empresarial e da assessoria de imprensa. Além do próprio Guilherme, Jociane do Nascimento, Ana Ribas Diefenthaeler, Rubens Herbst, Jean Balbinotti, Cristiane Schmitz, com o não menos talentoso Fábio Abreu assinando o projeto gráfico.
Assim como o casamento dos nobres, 176 anos atrás, ajudou a criar ambiente favorável ao estabelecimento da que hoje é a terceira potência econômica do Sul do Brasil, a viabilidade editorial e financeira da revista está ancorada por um detalhado planejamento estratégico, coordenado por profissional com sólida experiência no desenvolvimento de planos de negócios para os mais variados projetos. Dentro desse planejamento, a meta é, em cinco anos, consolidar a publicação e alcançar reconhecimento junto ao leitor de Joinville e região como a melhor opção de reportagem jornalística. Alcançará a perenidade e terá a influência da Princesa Dona Francisca?
Motivos para acreditar
Pesquisa divulgada pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), realizada pela Kantar Media, em 2018, mostra que 53% dos 5 mil participantes confiam no que leem em jornais e revistas. O estudo da Kantar Media também avalia que a credibilidade destes veículos ajuda a aumentar a confiança do consumidor nas marcas que utilizam esses meios de divulgação.
Outra pesquisa, feita em parceria por três cursos de jornalismo (UFSC, Ielusc e UEPG), entre 2016 e 2018, ouviu 2500 pessoas sobre leitura, credibilidade, qualidade e sustentabilidade jornalística. Intitulada Governança, Produção e Sustentabilidade para um Jornalismo de Novo Tipo (GPSJor), mostrou que a maioria dos entrevistados confia mais no meio impresso na hora de se informar. E que o entrevistado confia mais no jornalista do que na imprensa como instituição. Outra constatação da pesquisa foi de que as pessoas não consideram sua realidade e seus interesses representados na pauta das mídias já existentes em Joinville. Ou seja, o modelo pensado para a Revista Francisca explora um vazio no mercado local, que recentemente viu fechar um de seus dois diários e acompanhou o emagrecimento dos cadernos do concorrente que permaneceu.
"Há espaço para novos tipos de cobertura jornalística mais afinados com as demandas emanadas pelo público. Essas demandas podem ser atendidas por mídias tradicionais ou por novas organizações jornalísticas; em qualquer caso, o trabalho jornalístico será confrontado com a necessidade de se aproximar das comunidades, de entender melhor os problemas e as reivindicações de uma sociedade civil mais instruída e organizada. Os respondentes reivindicaram uma cobertura focada em serviços de caráter público — saúde, educação, segurança — e em temas claramente vinculados à cidadania — transparência pública, histórias inspiradoras”, revela o extrato da pesquisa GPSJor.
O relatório da 18ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2017-2021 também anima os editores de Francisca: "De fato, o conteúdo de melhor qualidade e a maior confiança do consumidor e do anunciante nas mídias impressas têm mantido os gastos nos modelos tradicionais: no Brasil representaram 97% dos gastos do consumidor em 2016 e, em 2021, serão 95%”.
“O meu sentimento é de que as revistas não estão mortas, elas estão e serão apenas diferentes. Com o tempo haverá uma reação ao digital. Haverá a necessidade de alguns de nós se cansar das telas e voltar para o papel impresso, que esteve por aí há mais de 150 anos. O próprio modelo de distribuição destas revistas seguramente mudará também. A impressão é especial, única, está viva nas mãos, você a sente!”, assevera Anthony Gibson, CEO do Grupo Publicis Portugal.
Por meio da associada EXPECTV e seu CEO Geraldo Lion, a ABEMO se faz representar no Conselho Editorial da revista, integrado por jornalistas, designers e publicitários, além de colaboradores espontâneos e pontuais de diferentes áreas, como fotojornalismo e marketing. Um desses colaboradores, o empresário Luiz Cardoso, destacado executivo em grandes grupos de mídia, chancela o surgimento de Francisca: "As mídias digitais — fantásticas — nos aproximam do mundo distante, mas nos distanciam do mundo em que vivemos. Onde fica nossa necessidade de pertencer, de fazer parte? O nosso dia a dia não é no país, no estado, no 'estrangeiro'. É aqui, na cidade, no bairro... Na paróquia. E que paróquia é Joinville? Uma das 35 maiores cidades do país em população e, dependendo do tema, ficamos entre os primeiros. Se numa cidade/região/aldeia como essa não houver espaço para localismo e viabilidade para um projeto novo de comunicação, onde haveria então?".
Não vai ficar no papel
Além da edição impressa, a Revista Francisca vai criar sua plataforma de conteúdo online e participação ativa nas redes sociais.