Aos 37 anos, Arthur Gregg Sulzberger assumiu nesta semana a cadeira de publisher do The New York Times, um dos mais influentes jornais do mundo, desafiado a enfrentar um período conturbado para a imprensa e a aprofundar as mudanças no modelo de negócios do diário, das quais tem participado desde 2014, quando liderou o chamado "relatório de inovação".
Para tanto, defendeu em nota e em entrevistas uma gestão com base nos valores jornalísticos vigentes desde a época de seu bisavô, Adolph S. Ochs – tais como “dar as notícias de forma imparcial, sem medo ou favor, independentemente de partido, seita ou interesses envolvidos” – e, ao mesmo tempo, na tecnologia e inovação.
O novo publisher do The New York Times enfatizou em nota que o modelo de negócio que suportou o trabalho duro e caro de reportagens originais está se deteriorando, forçando as organizações de notícias de todas as formas e tamanhos a cortar seus quadros de funcionários e a reduzir suas ambições.
Também disse que a desinformação, rumores e propaganda são crescentes nas redes sociais e, inflamadas por interesses políticos, têm por objetivo desacreditar o trabalho jornalístico.
“A crescente polarização compromete até mesmo a assunção fundamental de verdades comuns, o material que une uma sociedade em conjunto”, disse Sulzberger.
O executivo, também jornalista, garantiu que, diante desse quadro, o veículo continuará a perseguir por equidade e precisão em suas publicações e prometeu melhorar o trabalho do jornal diante de erros inevitáveis dentro do cotidiano jornalístico. Apesar de cauteloso e falar de estabilidade na redação, deixou claro que o jornal passará por mais alterações, seguindo a linha adotada nos últimos anos.
“Muito vai mudar nos próximos anos e acredito que essas mudanças levarão a uma reportagem mais rica e vibrante do que qualquer coisa que pudéssemos ter sonhado em tinta e papel”.
Paywall e audiência global
Sulzberger destacou os investimentos em jornalismo de qualidade aplicado às novas tecnologias e em múltiplas plataformas. “Nossas apurações estão mais fortes do que nunca, graças aos investimentos em novas formas de jornalismo como gráficos interativos, podcasts e vídeos digitais, e ainda mais investimentos em áreas como o jornalismo investigativo, cobertura internacional e apurações setorizadas”, disse, acrescentando que a audiência do jornal agora é global.
Em entrevista a David Remnick, da The New Yorker, o executivo comemorou o acerto do The New York Times em investir no modelo de paywall, enquanto a publicidade impressa encolhe e pelo menos três quartos da receita de anúncios digitais fica com o duopólio formado por Google e Facebook. Atualmente o diário conta com cerca de 3,5 milhões de assinantes, dos quais 2,5 milhões são apenas digitais.
“Hoje, a grande maioria de nossa receita vem diretamente de nossos leitores”, reforçou o publisher que substituiu o pai, Arthur Ochs Sulzberger Jr..
Polêmicas
Apesar do constante investimento nos valores jornalísticos, em especial a independência, o The New York Times também coleciona polêmicas ao longo de sua história. Uma delas voltou à tona com o recente filme "The Post", de Steven Spielberg, que envolve os Papéis do Pentágono, sobre a guerra do Vietnã.
No começo dos anos 1970, trechos dos documentos confidenciais foram publicados com exclusividade pelo The New York Times. Mas o diário deixou de publicar o relatório depois que o então presidente dos Estados Unidos Richard Nixon obteve uma ordem judicial que proibia a publicação de continuar interferindo em temas de segurança nacional.
O concorrente The Washington Post, porém, resolveu publicar os documentos e, para isso, enfrentou uma violenta batalha judicial, agora retratada no cinema.
Documentos secretos ligados à segurança nacional também sustentam acusações do jornalista James Risen, autor do livro State of War: The Secret History of the CIA and the Bush Administration.
O repórter afirma que, por várias vezes, foi censurado pelo The New York Times, por pressão da Casa Branca, em casos envolvendo a guerra do Iraque, as relações com o Irã e o programa maciço de espionagem doméstica da agência de segurança nacional norte-americana (NSA) após o atentado de 11 de setembro de 2001.