Em linhas gerais, toda notícia onde alguma informação está errada pode ser considerada falsa, mesmo que o erro não tenha sido intencional
Por Flavio Ferrari
Uma pesquisa global realizada pela Ipsos no final de 2018 quantificou o que todos sabemos: a confiança nas marcas de mídia está abalada.
Na média dos 27 países, onde mais de 19 mil entrevistas foram realizadas, 60% das pessoas afirmam observar com frequência histórias onde as organizações de mídia, deliberadamente, dizem algo que não é verdade. A Argentina lidera essa percepção com 82%. O Brasil também fica acima da média, com 73%.
A proliferação de ‘fake news’ teve uma boa parcela de contribuição para esse cenário de descrédito.
Em linhas gerais, toda notícia onde alguma informação está errada pode ser considerada falsa, mesmo que o erro não tenha sido intencional (56%). E, mesmo quando a informação está correta, mas foi selecionada de forma parcial para suportar um argumento (viesada, portanto), estamos diante de um tipo de fake news (44%). Também há quem diga que fake news é apenas um termo usado por políticos e pela mídia para desacreditar notícias que vão contra seus interesses (36%). Essa é a opinião dos entrevistados pela Ipsos.
Brasileiros são mais pragmáticos. Entre os entrevistados no país, 68% ficam com a primeira opção: se a informação é falsa, é fake news. Somos mais permissivos em relação ao tratamento parcial da informação. Apenas 25% dos brasileiros entrevistados consideram que isso caracterizaria uma notícia falsa.
Os jornalistas locais parecem acompanhar essa visão. Durante o painel sobre o uso da Inteligência Artificial para combater a desinformação no evento mídia.JOR, organizado pelo Portal IMPRENSA no final de setembro, a plateia presente foi convidada a avaliar a frase: “Toda notícia pode ser considerada ‘fake’ em algum grau”. A ideia é que, por mais que o profissional seja diligente e bem-intencionado, não será capaz de cobrir todos os ângulos, ouvir todas as opiniões e obter e verificar todas as informações antes da publicação, principalmente em se considerando a velocidade requerida pelo jornalismo atual. Portanto, a notícia terá sempre algum grau de parcialidade e o risco de apresentar alguma informação errada.
A plateia, formada predominantemente por jornalistas e profissionais de comunicação, tendeu a discordar da afirmação (2,3 pontos, numa escala de 1 a 5, onde 5 significa total concordância).
Outro ponto, também discutido no painel, foi o conceito de que fake news só causam danos se forem compartilhadas, o que traria a responsabilidade para o campo dos leitores e seu comportamento em redes sociais.
Na pesquisa da Ipsos, 63% das pessoas disseram ser capazes de identificar se uma notícia é falsa (68% entre os brasileiros), mas apenas 41% acreditam que ‘os outros’ são capazes de fazer o mesmo (38% BR).
No painel do mídia.JOR, a concordância com a frase “As redes sociais precisam identificar e banir notícias falsas” foi grande (4,3 pontos em 5). Mas isso não apenas é impraticável, dadas as nuances de interpretação, como significaria uma transferência de responsabilidades, de produtores e consumidores da informação.
Uma pesquisa publicada pela SocialData no início de 2019, realizada com 600 brasileiros usuários de internet com mais de 16 anos, indicou que Rádio, Jornais Impressos e Sites de Conteúdo lideram o ranking de credibilidade, mas com meros 30% de atribuição dessa qualidade. Os Sites de Notícia são o destaque quando o tema é atualidade da informação (50% de atribuição), mas sua credibilidade é um pouco menor (26% de atribuição).
Apesar da crise de credibilidade, a busca de informação continua sendo o principal fator motivador do consumo de mídia (36%), de acordo com a pesquisa da SocialData. Rádio, Jornais e Revistas (impressos ou digitais), e Sites de Notícia e Conteúdo lideram a busca por informação (50% de atribuições, em média).
A pesquisa da Ipsos, no entanto, deixa um importante alerta para a mídia brasileira: 47% dos brasileiros acreditam que a mídia engana as pessoas (com informações incorretas), um número muito próximo daquele atribuído aos políticos (49%).
Talvez não seja justo, mas é o que temos para o momento.
*O relatório da pesquisa “Fake news, filter bubbles, post truth and trust” da Ipsos pode ser obtido neste link.
Fonte: Portal IMPRENSA