Nos EUA, veículos debatem extinção do papel e migração para online enquanto que, no País, os maiores diários registram aumento de tiragem
Nos EUA, discute-se a eventual extinção do jornal no papel, assunto que volta à tona com o eventual fim do The New York Times (NYT) e sua migração para o ambiente virtual. O debate retornou à pauta depois que um importante executivo do jornal afirmou que, um dia, talvez, o NYT em papel acabe. No Brasil, grandes veículos como O Estado de S.Paulo, a Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de Minas e o Zero Hora, ao contrário, comemoram o crescimento do meio papel e a complementaridade com as novas plataformas como a internet, o telefone móvel e tablets, como o iPad. Na avaliação de alguns executivos, os tablets permitem que os jornais, descontruídos pelos sites na internet, voltem a se organizar, num formato de hierarquia de notícias bastante similar ao impresso.
"O papel está mais vivo do que nunca. Prova disso é que crescemos. O Estado de São Paulo é um dos jornais que mais cresce este ano. No Brasil, segundo nosso planejamento para os próximos cinco anos, o papel estará presente", afirma o diretor de conteúdo do jornal, Ricardo Gandour.
O executivo diz que, se o online foi um avanço sobre o papel, a presença do jornal em um dispositivo como o tablet iPad significa um resgate da hierarquia da informação. "A web é instantânea, mede a temperatura do mundo. O papel organiza o contexto, dá a análise. E, no iPad, há a convergência da edição de papel com recursos digitais", diz Gandour, ao equiparar as plataformas evolutivas pelas quais tem passado o veículo. "Se a web havia desconstruído a edição de papel, o iPad resgata a organização da informação".
"É muito cedo para falar que o papel será extinto. Mas, certamente, alguns leitores optarão por ler jornal pela internet ou pelos leitores digitais, como o iPad", opina o diretor executivo dos Diários Associados, Geraldo Teixeira da Costa Neto, que responde pelo jornal O Estado de Minas. "O Zero Hora cresceu com a internet. De 1996 a 2009, teve um aumento de 19% de circulação em papel, a preço premium (faixa dos grandes jornais)", diz o diretor geral de produto do Grupo RBS, Marcelo Rech. O Grupo RBS edita o Zero Hora, do Rio Grande do Sul, o Diário Catarinense, de Santa Catarina, e mais seis jornais.
Conteúdo fechado
"Desde sempre, nossa estratégia é fechar o conteúdo publicado no jornal impresso e deixar as atualizações em aberto para todo o público ao longo do dia, pelo online. Esse conteúdo fechado pode ser acessado por assinantes do Estado de Minas e do provedor Uai ou por meio de assinaturas específicas no online", diz Costa Neto, dos Diários Associados, que editam O Estado de Minas, o Correio Braziliense e o Diário de Pernambuco, entre outros. Até novembro, o Estado de Minas também deverá ter um aplicativo disponível no iPad.
"Diferentemente dos EUA, onde a circulação dos impressos tem queda acentuada, no Brasil o cenário do meio jornal é outro", reforça a diretora executiva da unidade O Globo, Sandra Sanches. Para o segundo semestre, O Globo aposta em crescimento de aproximadamente 3,5% na circulação frente ao mesmo período de 2009. E também nas demais plataformas.
A Folha de S.Paulo desenvolve um novo projeto que pretende embalar o conteúdo de dois mundos e transformá-lo num terceiro produto, que une o imediato e o analítico, informa o diretor executivo de circulação do veículo, Murilo Bussab. "Existem dois mundos: um é do momento atual, de hard news, 24 horas por dia, com textos curtos e manchetes pontuais, no portal folha.com. O outro é mais analítico, que hierarquiza e trata o que aconteceu nas últimas 24 horas. Antes da internet, isso era nítido. Hoje, as produções e plataformas estão misturadas", explica Bussab, que defende a permanência do papel: "O produto mais rentável é o impresso."
Por Sérgio Damasceno
Publicado 29 de Setembro de 2010