As lições de Chico Xavier para quem quer aprender a lidar com repórteres e a opinião pública.
Num primeiro contato com a mídia nacional, Chico Xavier foi exposto em foto dentro de uma banheira para os leitores da revista "O Cruzeiro" verem-no como figura exótica. Nesta época, ele contava trinta e quatro anos de idade (12.agosto.1944), num Brasil que via o "espiritismo" com reservas. Havia até quem acusasse os "espíritas" de charlatanismo, capazes das maiores farsas para enganar os inocentes e os desesperados.
(Isto tudo não é lembrado pela maioria dos que assistem ao filme recentemente lançado como forma de comemorar os cem anos de seu nascimento, assim como não lembram que uma ditadura militar vigorava durante toda a década de 1970 no Brasil, utilizando-se da censura de jornais e programas de televisão de forma escancarada.)
O senhor Chico Xavier aprendeu a lição e investiu na maturidade durante vinte e sete anos. Ao ser convidado para participar do programa "Pinga Fogo", pela TV Tupi, demonstrou ter incorporado algumas diretrizes à sua orientação para administrar sua exposição ao público através destes meios de divulgação, durante a entrevista de 28 de julho de 1971.
Estas diretrizes podem ser identificadas através do uso dos seguintes termos: parcimonia, modéstia e elegância.
A parcimonia é caracterizada pela economia de gestos e palavras, demandando atenção para identificar com clareza o significado e (até onde isto é possível) a intenção das frases de seus interlocutores, antes de se pronunciar. Assim, o entrevistado manteve seu foco (divulgar sua versão da doutrina espírita, se não me falha a interpretação) e evitar os tiques e os clichês. Ou seja, evitar o "lugar comum" que transforma qualquer pessoa em uma espécie de caricatura diante das câmeras de televisão, como se pode notar ainda hoje, em alguns programas de entrevistas destinados ao público empresarial.
Para tanto, supõe-se que houve sacrifício da parte do entrevistado, uma vez que este dedicava parte significativa do seu tempo para a escrita e a fala durante o seu cotidiano; tendo publicado cem livros até aquela data e chegando, depois, a superar a marca dos quatrocentos livros editados.
Mas a parcimônia sozinha não tem valor. Neste caso, ela veio acompanhada da modéstia. O entrevistado em momento algum enalteceu sua imagem ou obra de caridade, não citou número nem extensão das ações que desenvolvia. Em algumas oportunidades chegou a se menosprezar. Comentando suas limitações e fraquezas, chegou a fazer piada do comportamento que adotou durante uma viagem de avião, pedindo socorro em voz alta durante um período de turbulência.
A elegância do entrevistado não superava a de seus entrevistadores em termos de vestimenta, mas se concentrava na escolha das palavras, na cautela ao pronunciá-las, sem rebuscamentos nem exposição de termos incompreensíveis para as pessoas comuns. Tanto os da platéia como os telespectadores poderiam entender suas analogias sem grandes esforços nem consultas a especialistas ou dicionários. Sua maior excentricidade foi usar uma peruca e, por isto, foi classificado de "vaidoso" por pelo menos um dos telespectadores em busca de meios para "desmacará-lo" como este próprio justificaria o fato de ter permanecido até altas horas para assistir a toda entrevista.
Expressar-se de forma gramaticalmente correta também contribuiu para que sua entrevista fosse lembrada e comercializada até trinta e nove anos após ter sido gravada. Algo que um jovem dedicado pode conseguir desde que tenha acesso à escola e a devida dedicação sem alcançar este nível de destaque. Então a maturidade deve ter algum valor quando combina parcimonia com modéstia e elegância.
A combinação destes aspectos resultou num dos raros casos de programa que superou em muito o tempo previsto para entrevista, em função dos altos índices de audiência que manteve enquanto estava no ar.
E se um empresário ou executivo efetivamente se dedica a promover a excelência de sua empresa, uma boa parte do caminho preparatório para falar a respeito de suas convicções e experiências foi percorrido, mas pode não ser suficiente. Promover a excelência em uma empresa é uma coisa, relacionar-se com a mídia é outra. Outra coisa bem diferente, mas há casos em que há uma relação entre ambas, ou seja, para buscar a excelência certos executivos precisam se expor de forma adequada à mídia.
Seguir o caminho contrário, ou seja, começar pela mídia pode levar a frustrações e desgastes significativos como os que experimentou Chico Xavier. Evitar seus tropeços é um bom negócio.