Atividade iniciada na Europa, no final do século XIX, o clipping ou clipagem se propagou pelo mundo e é, ainda hoje, um instrumento importante para medir o que a mídia está dizendo sobre determinada empresa ou personalidade. No início, consistia em monitorar as informações publicadas em jornais e revistas e recortar as que interessavam a determinado cliente.
O trabalho se expandiu à medida que surgiram novas mídias, como as eletrônicas e as digitais. Hoje, as tarefas vão além de monitorar e recortar textos. As notícias são classificadas (neutras, positivas, negativas) e analisadas. O clipping transformou-se numa ferramenta importante para as áreas de inteligência dos setores público e privado. A análise do noticiário permite que os clientes antecipem a chegada de uma crise e se preparem para superá-la sem danos significativos à sua imagem.
No Brasil, a literatura consolidada sobre o tema é escassa. O que existe fala basicamente de uma ou outra etapa do clipping. O maior número de textos disponíveis refere-se à clipagem de redes sociais. Os jornalistas gaúchos Auber Lopes de Almeida e Nubia Silveira acabam de publicar Clipping, pela Farol 3 Editores, uma obra completa, enfocando desde a história dessa atividade até o futuro do setor e da comunicação em geral.
Na obra, os autores abordam a questão dos direitos autorais atualmente em discussão no Brasil pelos veículos impressos e clipadoras, a valoração e análise das notícias, com dados técnicos, além dos aspectos éticos envolvidos no trabalho.
Confira a entrevista com os jornalistas e autores Auber Lopes de Almeida e Nubia Silveira:
De quem foi a iniciativa de escrever um livro sobre o clipping e o que o motivou?
- A ideia foi do Carlos Alberto Cardoso, diretor geral da CWA Clipping (Associada da Abemo). Ele constatou a inexistência de um livro que abordasse o tema em sua plenitude. A literatura encontrada no mercado tratava de uma ou outra etapa da atividade, iniciada no final do século XIX. Na Internet é possível encontrar bons e-books dedicados ao clipping virtual. Quanto à história e à classificação, por exemplo, há alguns papers, estudos, teses e, pelo menos um livro, do jornalista gaúcho Jaurês Palma que discorre sobre a valoração da notícia e que, ele mesmo reconhece, já está desatualizado.
Qual a principal dificuldade enfrentada para elaboração da obra?
- Como há pouca ou quase nenhuma literatura, o livro foi baseado na experiência, no trabalho efetuado pelas empresas de Clipping com sede no Brasil ou no exterior. Entrevistamos empresários de clipping e mídia checking, professores e estudiosos do assunto. Pesquisamos as propostas apresentadas por entidades internacionais que debatem o tema, como Fibep e AMEC. A receptividade dos entrevistados – empresários, técnicos, professores, pesquisadores – foi excelente. Mais de 90% responderam ao nosso apelo, nos dedicando tempo precioso do seu dia para nos explicar o que é Clipping e por que etapas passa esse trabalho.
Qual a tiragem inicial, e além do site, onde o leitor interessado pode encontrar um exemplar?
- Estamos disponibilizando 1 mil exemplares nessa primeira impressão. Ele pode ser adquirido pelo site
http://farol3editores.com.br/clipping, no valor de R$ 30,00. Em breve, pretendemos lançar o livro na versão digital.
No capítulo sobre o futuro do Clipping, o sócio da CWA Clipping assegura que o "Monitoramento sempre vai existir", e o desafio é o que e como se dará esse monitoramento. Já alguns mais entusiastas da era da "Inovação", afirmam que as clipadoras estão com dias contados. A que você atribui essa afirmação e como acha que deve se comportar o mercado de monitoramento da informação daqui pra frente?
- A afirmação do Carlos Alberto Cardoso se baseia na história do clipping e na experiência que ele tem, estando há 21 anos no mercado. Concordamos com o que ele afirma. Ficou claro para nós que o monitoramento foi se transformando à medida que surgiram novas mídias. Hoje, as empresas de clipping ou clipagem usam ferramentas, vulgarmente chamadas de robôs, para monitorar as informações, que chegam a milhões. É impossível para o ser humano fazer o monitoramente do mundo digital, das redes sociais, em que as informações circulam com muita rapidez e enorme quantidade. Algo impensável há 20 anos ou menos. O monitoramento segue sendo feito, por meio da tecnologia. No futuro, ocorrerá o mesmo: as informações serão monitoradas. A forma de monitorar poderá ser outra, dependendo do caminho que a comunicação trilhar, mas ela sempre existirá. A necessidade humana de saber o que dizem, onde dizem e como dizem sobre ela não mudou nos últimos séculos e não deverá mudar nos próximos. O negócio do clipping – originalmente, monitoramento e recorte de informações – passará por transformações, mas não morrerá.
Ainda no mesmo capítulo, o diretor artístico da TV Globo, Carlos Kolber, afirma no livro que "o investimento no humano é a nossa única saída". Acredita que uma das saídas pode ser a inclusão do monitoramento da informação como disciplina em cursos na área de comunicação?
- O monitoramento pode ser feito por robôs, o que não pode é a análise. Dependemos do humano para decifrar as entrelinhas de uma informação, a tendência de quem escreve, o sentimento embutido da notícia. Achamos, sim, que e as Faculdades de Comunicação devem ter uma disciplina que ensine a ler, ouvir e ver o noticiário de forma a saber se o que se escreve, diz ou mostra é uma informação neutra sobre o fato, positiva ou negativa, e o que ela indica para o futuro do sujeito - pessoa, empresa ou entidade citada. Essa é outra certeza de muitos, como Kolber, e também nossa: a interferência humana na clipagem poderá diminuir, mas seguirá presente, em especial quando se tratar de analisar os conteúdos.
Um dos pontos polêmicos do livro está no capítulo sobre os direitos autorais, no qual fica evidente que ainda não há um entendimento claro por parte dos veículos de mídia sobre o real papel das clipadoras e o quanto elas podem contribuir umas com as outras. Não haveria aí um espaço para que os clientes pudessem criar esse elo, uma vez que a maioria, além de assinantes, são também anunciantes?
- Olhando para o que aconteceu nos Estados Unidos, acho que o cliente prefere se manter à distância, nessa discussão. Quer receber as informações, mas não quer tomar lado. O debate, imagino, permanecerá mesmo entre as clipadoras e os meios de comunicação. Como diz Maria Laura Garcia, da Global News, é preciso fazer com que os comunicadores entendam que o clipping não lhes tira leitores, ouvintes, telespectadoras. Ao contrário, aguça a vontade de ler, ouvir e ver os meios de comunicação citados. Clipadores e meios de comunicação são parceiros na difusão de fatos e conquista de clientes.
O livro também evidência o quanto de investimento em tecnologia da informação é necessário para oferecer o serviço. Atualmente, existe no mercado algo pronto, para quem quiser empreender, ou cada um precisa achar a sua receita?
- Já é possível encontrar mecanismos prontos no mercado, mas eles não correspondem 100% ao esperado. As clipadoras ainda necessitam investir no desenvolvimento de suas próprias ferramentas. Motores de busca de conteúdo na web, licenciados para o uso das empresas de clipping, começaram a agregar outras mídias, como rádio e tv. O resultado, no entanto, ainda é muito questionável e as clipadoras que se preocupam com a qualidade não abrem mão da intervenção humana nesse processo.
Podemos afirmar, hoje, que o Mercado de Monitoramento de Informação possui uma alta barreira de entrada e uma barreira de saída baixa?
- Existe uma barreira natural, devido às aceleradas mudanças que estão ocorrendo nas mídias. Essa transformação exige das clipadoras adaptações igualmente rápidas que demandam investimentos constantes. O mercado consumidor de clipping, no entanto, não cresce na mesma velocidade, fazendo que com o retorno demore a chegar. O certo é que o investimento não é mais irrisório, como quando a atividade teve início. Esse cenário, aliado à crise na economia, desencoraja novos empreendimentos na área e força a saída precoce daqueles que ainda não conseguiram uma carteira sólida.