As 26 jornalistas envolvidas no projeto, trabalham em veículos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), o portal online NE10, o impresso Jornal do Commercio, a Rádio Jornal e a TV Jornal.
O projeto #UmaPorUma, lançado ao final de abril, está se dedicando a contar as histórias de cada mulher assassinada no Estado de Pernambuco desde o início do ano. Além de registrar as mortes, elas vão acompanhar o andamento de cada caso na Justiça, cobrando o julgamento dos acusados e a punição do crime.
As 26 jornalistas envolvidas no projeto, todas mulheres, trabalham em veículos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) –o portal online NE10, o impresso Jornal do Commercio, a Rádio Jornal e a TV Jornal–, que apoia e hospeda a iniciativa. “A pauta do feminicídio sempre esteve em nosso dia a dia”, disse Melo ao Centro Knight.
“A sensação que cada uma de nós tinha é que fazíamos o dia, mas não dávamos continuidade. Ficava sempre a sensação de que poderíamos ter feito mais.”
Em outubro de 2017, Ciara Carvalho produziu o especial multimídia “A culpa não é delas”, sobre violência doméstica e sexual contra mulheres no Estado e a cultura machista de responsabilização das vítimas. A inquietação de Melo, Carvalho e outras jornalistas do SJCC sobre o tema levou à criação do #UmaPorUma no começo deste ano.
O projeto também contou com a equipe de design e estatística da empresa para o desenvolvimento do site e o tratamento dos dados, que estão sendo coletados pelas jornalistas a partir dos casos veiculados na imprensa e de um acordo de cooperação com a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.
De acordo com os dados do primeiro trimestre do ano, janeiro a março, 77 mulheres foram assassinadas em Pernambuco. As jornalistas identificaram cada uma delas, apresentando informações sobre os crimes e o andamento de cada caso.
No dia 27 de maio, serão publicados os dados sobre o mês de abril e as atualizações dos casos dos primeiros meses.
“Vamos acompanhar: o inquérito foi concluído? Foi. O Ministério Público apresentou a denúncia? Ainda não. Então vamos ficar no pé do Ministério Público”, explicou Melo, acrescentando que também serão veiculadas reportagens de análises dos dados no site do projeto e nos veículos do SJCC. “Isso se torna pessoal para cada uma de nós, mas é feito com aval e com toda a força do sistema [de comunicação].”
Segundo ela, o trabalho referente ao primeiro trimestre do ano foi realizado em um mês, com as jornalistas se dividindo na apuração e no acompanhamento dos casos. “Fomos negociando e compartilhando o trabalho. Até isso é muito positivo: o projeto estimulou a sororidade entre as mulheres da redação. A gente tem se ajudado muito para que o produto final aconteça”, disse Melo.
Cada jornalista vai acompanhar seus casos até o fim do ano –a previsão é que o projeto seja encerrado em janeiro de 2019 com um balanço de 2018. O grupo que realiza o projeto e que hoje conta com 26 jornalistas deve se expandir nos próximos meses, disse Melo.
“Desde o início sabíamos que iríamos trabalhar com um montante de informação que eu e Ciara ou mais duas ou três pessoas não iríamos dar conta. A gente estima que até o fim do ano serão 300 mortes. Não vamos chegar a 300 mulheres trabalhando no projeto, mas vamos precisar de muitos braços e muito fôlego para ir até janeiro de 2019.” De acordo com a jornalista, “existe o sentimento coletivo de continuidade” para além desta data, mas ainda é cedo para avaliar se será possível.
A intenção é que os dados consolidados de 2018 e tratados pela equipe do projeto sejam disponibilizados ao público, com recortes diversos como cor/raça, faixa etária e escolaridade das vítimas. O objetivo primeiro de #UmaPorUma, segundo Melo, é justamente esse: divulgar informações verificadas sobre a violência contra mulheres no Estado.
O Instituto Maria da Penha, cujo nome homenageia a brasileira que também batizou a lei nº 11.340/2006, contra a violência doméstica, é parceiro e consultor da iniciativa e vai colaborar com as jornalistas na criação de um manual de boas práticas para qualificar a cobertura da violência contra mulheres.
Fonte: knightcenter.utexas.edu