A publicidade e a circulação impressas permanecem em queda e os jornais investem cada vez mais no modelo de assinaturas digitais, com muitos deles registrando altas constantes nas inscrições, enquanto tentam mudar o cenário do mercado de anúncios online amplamente dominado por Google e Facebook.
Mas em um cenário de hiperinformação – acompanhado por efeitos colaterais, como as notícias falsas – o quanto os jornais conseguem cobrar por seus conteúdos? Recente pesquisa do American Press Institute revela que, nos Estados Unidos, o preço médio da assinatura, excluindo ofertas, é de US$ 2,31 por semana, variando entre US$ 0,46 a US$ 7,85. Também na média, cerca de US$ 10 por mês ou US$ 120 ao ano.
O estudo, liderado por Tracy M. Cook, analisou o valor das assinaturas digitais de 100 jornais norte-americanos, de 41 estados e Washington, DC, em outubro de 2017, e consultou os executivos dos veículos para descobrir como eles determinam seus preços para conteúdo na internet.
Uma das constatações da pesquisadora é que, em meio à mudança do impresso para o digital, os preços acompanharam o maior valor dado pelos publishers ao modelo de paywall. Mesmo que os preços estejam acima do que o público diz estar disposto a pagar (US$ 1,59 por semana, conforme o estudo), o preço semanal médio verificado agora é bem maior (83%) que o encontrado pelo relatório de 2012 do Reynolds Journalism Institute: US$ 1,05 por semana.
A pesquisa identificou que o preço não está diretamente relacionado ao tamanho do mercado ou da circulação de um jornal. O que se mostrou mais determinante foram os testes de mercado dos veículos, bem como o tipo de publicação de cada publisher. Algumas empresas, como Tronc e McClatchy, padronizaram seus preços em todos produtos.
Em outras companhias, como Gannett, o valor variou. Na sequência, os executivos também levam em conta, na formação do preço, as normas da indústria jornalísitca e, depois, os valores cobrados pelos concorrentes. Nas promoções, as assinaturas com descontos resultam em taxas de conversão mais elevadas do que as gratuitas.
Valores similares ao Netflix
Ao analisar a pesquisa, a jornalista Laura Hazard Owen, do site Nieman Lab, da Nieman Foundation, Universidade Harvard, disse que é possível que os publishers também estejam olhando para o que cobram outros prestadores de serviços na web ao definirem os preços das suas assinaturas, dando maior valor à importância do jornalismo que oferecem.
Nesse caso, ela lembrou que o Spotify Premium cobra US$ 9.99 ao mês, o pacote padrão mensal da Netflix é de US$ 10,99. “Esses serviços oferecem acesso a uma variedade muito maior de conteúdo do que uma assinatura de um único jornal; nesse contexto, o fato de as pessoas parecerem dispostas a pagar US$ 10 por mês por um única publicação parece quase animador”, escreveu a Owen.