Tempo, precisão e capacidade de compartilhamento ou republicação. Parece que estamos falando do sonho de consumo dos contratantes de clipping, gestores de comunicação e assessores de imprensa. Mas não. Há usos os mais diversos para essa tecnologia.
Por razões médicas – e não jornalísticas, de relações públicas ou retorno publicitário – a Major League Soccer monitora os jogos do campeonato norte-americano de futebol transmitidos pela TV. Enquanto o Brasileirão despreza o emprego do árbitro de vídeo, na América neurologistas dão plantão durante as partidas em andamento em distintos pontos do país, seja em Chicago, Orlando ou Los Angeles. Havendo um encontrão em campo, com suspeita de concussão, em segundos o clipping do lance com a pancada na cabeça explode no monitor do especialista, na sede da organização, em Nova York. Leva-se até três minutos e meio para que, na beira do gramado, o treinador receba a recomendação de permitir o retorno do atleta ao jogo ou acionar o banco de reservas.
"Só demora tanto porque nesses casos o clipping precisa ser encriptado, pois o sigilo do histórico médico do cidadão é protegido por lei nos Estados Unidos. Qualquer diagnóstico não pode vir a público sem o consentimento expresso do paciente", lembra Joe Atkinson, gerente sênior da Administração Médica da MLS. Para abreviar essa espera ao menos pela metade, a entidade estuda formas de trafegar os vídeos de lances de contusões sem necessidade de criptografia e sem dar mole para bisbilhoteiros interceptarem o envio do arquivo.
O Condé Nast, centenário grupo que edita a revista Vogue, entre outras, também monitora comentários sobre suas matérias, bem como citações e "aparições" de suas páginas em programas de televisão. A repercussão eventualmente obtida em dezenas de canais monitorados é levada quase que instantaneamente para suas redes sociais onde, claro, "tudo deve ser monetizado", explica Nicole Dellert, chefe de Social News da corporação.
E se o buzz alavanca dinheiro, amplia a visibilidade e potencializa a audiência, Brandon Launerts, produtor de Social Media do matutino CBS This Morning, se desdobra durante as transmissões para selecionar e transportar para a web o que de mais atrativo, polêmico ou inspirador estiver rolando no programa. Breaking news, a cobertura da entrega do Grammy, a última gafe do Trump, o movimento de tropas no Afeganistão, a final do Super Bowl.
A ferramenta por trás dessas proezas é o estável e confiável casamento entre hardware e software promovido pela empresa texana SnapStream. Fundada em 2001 por Rakesh Agrawal, cientista computacional, engenheiro mecânico e, obviamente, aficionado por televisão, a SnapStream começou produzindo e vendendo software de prateleira, como o mal sucedido Personal Video Station e o Beyond TV, primeiro grande sucesso comercial.
Entretanto, logo Rakesh percebeu que seu mercado era outro e, mais que isso, ansiava por soluções completas e conveniência. O que chegava ao telespectador pelas antenas terrestres, cabo ou satélite devia poder ser localizado de forma prática e ligeira. Afinal, acessar acervo analógico de conteúdo audiovisual exigia (ainda exige!) salas imensas e logística complexa, além de depender de vagaroso processo de busca envolvendo humanos. Foram anos de trabalho duro até se chegar ao produto hoje oferecido: TV e DVR for business (TV e Gravação de Vídeo Digital para Negócios).
A crescente demanda por um sistema de pesquisa automatizado, que possibilitasse encontrar trechos específicos de assuntos veiculados pelas emissoras, levou a SnapStream a criar gravadores escaláveis, capazes de gerenciar e armazenar de 4 a 50 sinais simultâneos, e até mais, em SD e HD, quando montados em clusters, para que funcionem como uma só máquina.
Desde a primeira versão, lançada em 2007, que "apenas gravava" os vídeos, foram desenvolvidos e adicionados mecanismos de busca baseados em timecode e, especialmente, closed caption. Sincronizar áudio e vídeo com o texto da closed caption foi a inovação que seduziu e abriu as portas dos grandes clientes para a SnapStream. A legenda oculta, também conhecida pela sigla CC, da qual a maioria de nós só se lembra quando em salas de espera de consultórios, rodoviárias, aeroportos, além das circunstâncias de auxílio a deficientes auditivos, é obrigatória nos Estados Unidos até durante os intervalos.
Como consequência natural, vieram outros avanços como a capacidade de extrair trechos (gerar e compartilhar clippings) e enviar alertas por e-mail. Em 2011, a solução ganhou interface web. Em 2013, foi apresentada a integração com o Twitter e o Facebook. Dois anos mais tarde, lançada a possibilidade de instalação em versão cloud (a mais procurada atualmente) e o sistema passou a conversar em harmonia com o fluxo de trabalho do YouTube, Vimeo, Dropbox, Google Drive e outras plataformas.
Hoje os codificadores SnapStream capturam live streaming a partir de interfaces HD-SDI e protocolos como UDP, HLS, RTMP e MPEG-DASH. Até mesmo uma set-top box foi criada para distribuir TV via streaming e simplificar e acelerar o acesso a conteúdos gravados. Com o equipamento de menos de um quilo, o usuário poderá viajar para o Japão, por exemplo, e de lá, conectado à internet, assistir a seus programas preferidos nos Estados Unidos.
2018
O projeto prioritário para 2018 é consolidar a implementação do SnapStream Federation, que integrará máquinas das Costas Oeste e Leste, Centro, Sul e Norte do país para que as grandes redes e clientes possam acessar, olhando para a mesma tela, conteúdos locais de outras praças. Além disso, também estão na ordem do dia para este ano o monitoramento de informação em serviços de vídeo on demand, Netflix, Amazon Prime, Periscope e Facebook Live, para citar alguns. Questões legais deverão ser resolvidas.
Hoje investidor e anjo de mais de 80 startups, Rakesh se mostra orgulhoso por manter a SnapStream enxuta. Produtividade extrema, foco em estratégia e altíssimo valor agregado ao produto/serviço. Seus trinta colaboradores atendem a todas as grandes redes de TV dos Estados Unidos, universidades, departamentos de polícia, a Casa Branca, Senado, Biblioteca do Congresso, astros da TV e promotores de competições e eventos endinheirados como a Nascar e o PGA Tour. Aplicativos para celulares baseados em produção de vídeos pelos próprios usuários, como o Dubsmash, também integram a carteira de clientes.
"Gravar vídeo 24x7x365, construir memória que você não quer perder ou apagar, requer infraestrutura robusta, investimentos em armazenamento e redundância", alerta Adam Cooper, gerente de tecnologia da ABC.
"Adotamos a solução SnapStream há 9 anos, com uma máquina simples para gravar quatro canais. A ideia era turbinar a censura da emissora. Mas logo depois, todos na corporação queriam ter acesso ao sistema, pelos mais diferentes motivos, desde o alto escalão ao jurídico, passando pelos âncoras e produtores", acrescenta David Hadley, diretor técnico da CBS, anfitriã da SnapStream User Conference, realizada em 3 de fevereiro.
O CEO da Expectv, Geraldo Lion, representante da Abemo no encontro, apurou que o custo mensal para adotar a solução é de mil dólares por canal. Também há um investimento inicial único para a aquisição do codificador, que varia de 2 mil (quatro canais) a 3 mil dólares (10 canais).